Em um momento em que um dos maiores desastres naturais da história assola o Sul do Brasil, uma carta tratando sobre os direitos climáticos, assinada por uma jovem do Morro do Papagaio, comunidade da região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi lançada neste sábado (18/5). Chamada de “Carta de Direitos Climáticos do Morro do Papagaio”, o documento aborda desafios críticos enfrentados pelos mais de 16 mil moradores da comunidade, como saneamento básico inadequado, descarte irregular de lixo, racismo ambiental, dentre outros. Amanda Ferreira Lima, de 23 anos, é autora da carta. A estudante se baseou em outros documentos com temática para defesa do meio ambiente para construir propostas para cada um dos pontos citados acima. “Aqui é extremamente quente, essa sensação de panela de pressão constante. Nosso sonho é ter mais áreas verdes por aqui para diminuir o calor. O saneamento básico é outra preocupação, porque a falta dele está ligada a diversas doenças. Nas ruas dá pra ver lixos aglomerados, que também prejudicam a saúde. Fora a questão da água, que alguns lugares não têm o encanamento. Então, a gente só espera que se cumpram os direitos nos assegurados na constituição.” A jovem espera que a carta atravesse o mundo, chegue aos órgãos competentes e influencie outros moradores do bairro. “Como uma mulher negra, periférica, que nasceu e foi criada aqui, sei que a gente acha que esses lugares não são nossos. Mas quero que essa carta tenha algum tipo de mudança na vida das pessoas, mesmo que pequena, para que outros jovens venham e continuem cobrando as autoridades, fazendo valer a nossa voz,” finaliza Amanda. A respeito das reivindicações listadas na carta, a reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, e aguarda o posicionamento do órgão. Tão logo seja feito, a matéria será atualizada.
Colaboração - O manifesto é fruto de um processo colaborativo e que teve início ainda em 2023, a partir de um treinamento realizado pelas organizações Eu Amo Minha Quebrada, Global Shapers Belo Horizonte, The Climate Reality Project Brasil e Engajamundo. A ideia é transformar os jovens da comunidade em líderes climáticos, fornecendo a eles suporte e ferramentas para chamar a atenção do poder público e do setor privado para as mazelas climáticas enfrentadas pela comunidade.
Sonhos da favela - O líder comunitário e fundador do projeto Eu Amo Minha Quebrada, Júlio Fessô, comentou sobre a importância do lançamento da carta. “As mudanças climáticas são um caminho sem volta. E para muita gente, principalmente para quem mora nas comunidades, isso não passa de uma notícia do jornal. Então a gente está trazendo essa discussão para dentro da favela, porque querendo ou não, é uma das partes que mais sofrem com isso. Então, para nós, esse momento é muito importante.” Júlio também contou sobre os sonhos para a comunidade. “Meu sonho é que o Morro do Papagaio seja uma favela moderna, que a gente tenha aqui telhados verdes, horta vertical, áreas arborizadas, captação de água fluvial, energia limpa e renovável e por aí vai. A gente é capaz de produzir tudo isso aqui dentro. Por enquanto, temos algumas iniciativas voltadas para o meio ambiente, como por exemplo, a gente recebe o óleo usado pela comunidade para descartá-lo corretamente. Também temos um projeto chamado Recicla Kids, que trabalha com as crianças as questões de reciclagem.” O evento de lançamento da carta ocorreu na sede do projeto Eu Amo Minha Quebrada, no Morro do Papagaio. A cerimônia contou ainda com a participação de representantes de outras organizações.
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