A onda de ataques a escolas gerou perguntas ainda sem respostas no debate público. Uma delas: o que motiva um jovem a planejar um massacre contra professores e alunos? Em 27 de março, por exemplo, um adolescente de 13 anos de idade entrou numa instituição de ensino na Vila Sônia (SP) e esfaqueou até a morte a professora Elisabete Tenreiro, 71 anos. Ele ainda feriu dois alunos e três docentes antes de ser preso pela polícia. Uma semana depois, Luiz Henrique de Lima invadiu a escola infantil Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC), e matou quatro crianças — três meninos e uma menina, com idades entre 4 e 7 anos. Esses atentados desencadearam centenas de ameaças a escolas do país, como no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Manaus, Goiás e São Paulo. Este último apresenta o cenário mais alarmante. De 27 a 31 de março, a Polícia Civil identificou 279 suspeitas de ataques no Estado — 56 por dia. Isso representa um aumento expressivo no número de casos. De 1º de janeiro a 26 de março, ocorreram 82 ameaças do mesmo tipo. Segundo o psicólogo Luiz Ricardo Vieira Gonzaga, especialista em psicologia clínica cognitivo comportamental, a resolução desses problemas é complexa. “É preciso avaliar a relação dos jovens com a família, fortalecer a estrutura das escolas e aprimorar as políticas educacionais”, observou, em entrevista a Oeste. “Deveria haver um espaço de acolhimento para os jovens nas escolas. Ao mesmo tempo, é importante existir uma supervisão dos ambientes violentos na internet.”
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o senhor avalia a escalada de violência dos jovens?
Os ataques a escolas não eram comuns no país. Houve a ascensão de grupos extremistas na internet, que acabaram ganhando protagonismo no Brasil. Esse tipo de movimento é comum nos Estados Unidos. Alguns dizem que apenas o bullying pode ser a causa dos massacres em escolas. Mas não é assim. Houve ataques em diversas instituições de ensino do país. Esse tipo de crime não escolhe nível social, raça e cor. Um ponto importante de pensar é a forma como a violência ocorre nas escolas. Não há apenas uma reação dos jovens aos traumas psicológicos que sofreram. É mais amplo.
O que motiva essas reações violentas?
É preciso entender como surgem essas reações agressivas, que parecem respostas a traumas psicológicos. Também é necessário entender as referências dos ataques às instituições de ensino. Na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia [SP], o jovem assassino usou uma máscara de caveira. É uma alusão a outros crimes desse mesmo tipo [reportagem publicada na Edição 160 da Revista Oeste detalha esse assunto]. Há um padrão, um significado. Os autores dos massacres estão buscando visibilidade, reconhecimento.
As mídias sociais têm um papel nesse processo?
Na internet, os adolescentes estão suscetíveis a participar de movimentos extremistas. Jovens com problemas psicológicos têm a sensação de que pertencem a esses grupos agressivos, sobretudo quando carregam consigo histórias de rejeição. A adolescência é uma fase de desenvolvimento, em que os circuitos cerebrais ainda não estão totalmente formados. Nesse período, ter relação com grupos extremistas é perigoso. Isso entra como uma luva nas mãos dos adolescentes. É uma maneira de estimular alguns jovens a ter comportamento extremista. Eles podem entender que a vingança é a melhor forma de responder aos sofrimentos passados.
Quais seriam as possíveis soluções?
É preciso avaliar a relação dos jovens com a família, fortalecer a estrutura das escolas e aprimorar as políticas educacionais. Os Estados e os municípios deveriam propor políticas públicas amplas, porque esses crimes ocorrem em escolas de todos os níveis econômicos. Qual força-tarefa estão promovendo, de maneira a conter a violência nas instituições de ensino? É preciso ter um espaço de acolhimento para os jovens nas escolas. Ao mesmo tempo, é importante existir uma supervisão dos ambientes violentos na internet.
Drykarretada!