Para não noticiar o fiasco de Lula, a velha mídia tira o foco de pautas centrais e finge que o governo Bolsonaro ainda não acabou. Antes do caso das joias, outra artilharia similar ocorreu por um mês com os gastos com cartões corporativos do governo, um verdadeiro baú de notas fiscais que podem ser pinçadas e publicadas com qualquer verniz editorial. Mas esqueceram da comparação do Lula. Um dado relevante foi omitido: Bolsonaro desembolsou R$ 32 milhões durante o mandato (valores corrigidos pela inflação). No primeiro governo, Lula gastou R$ 59 milhões. Aliás, a farra com os cartões derrubou dois ministros do petista em 2008. E sabia-se que os seguranças dos familiares e do próprio presidente Lula gastavam sem rédeas.
ISSO NÃO INTERESSA – O fato de Lula ter gastado quase o dobro, contudo, não importa para a velha imprensa, que tratou o pagamento de R$ 10 mil em quatro anos numa padaria carioca como escândalo; ou os R$ 8 mil numa sorveteria. O jornal O Estado de S. Paulo conseguiu encontrar até notas ficais de 6 quilos de picanha pagos com o cartão. A legislação diz que o uso do cartão corporativo deve ser com despesas eventuais, por exemplo, em viagens, que exigem pagamento à vista — os cartões substituíram os cheques. No caso do presidente e de alguns órgãos de segurança e inteligência, as despesas podem ser sigilosas.
O fato é que a disparidade entre a realidade do país e a cobertura dos primeiros meses do governo Lula é gritante, conforme o quadro acima. O Lula 3, aliás, também inaugurou um novo capítulo no Manual de Redação da mídia. Dos mesmos criadores do “despiora” da economia e da profusão de manchetes adversativas, agora surgiu a “reoneração” dos combustíveis e as “viroses” carnavalescas — a covid sumiu.
OUTRAS DISTORÇÕES – Mas se aplica também às miudezas do noticiário. Na quarta-feira, dia 8, por exemplo, a informação de que o filho caçula de Bolsonaro, Jair Renan, vai trabalhar num gabinete no Senado ofuscou a declaração grave do ministro Luiz Marinho (Trabalho) contra a empresa Uber, que emprega milhares de pessoas. “Se a Uber e as outras plataformas não gostarem de um processo de formalização, eu sinto muito”, disse. “Tem de ter regras, controle para não ter excesso de jornada.” Não foi a primeira vez. No mês passado, ele teve a brilhante ideia de sugerir que os Correios substituíssem o gigante do transporte por aplicativos. “Posso chamar os Correios, que são uma empresa de logística, e dizer para criar um aplicativo e substituir a Uber”, declarou. “Aplicativo se tem aos montes no mercado. Não queremos regular lá no mínimo detalhe. Ninguém gosta de correr muito risco, especialmente os capitalistas brasileiros.”
DIZ A UBER – Em 2021, quando se recuperava dos lockdowns da pandemia, a Uber divulgou um relatório no qual dizia gerar R$ 36 bilhões de valor agregado para a economia brasileira — soma do dinheiro repassado aos motoristas e o impacto na produção e no mercado de carros, oficinas e seguradoras. A empresa tem mais de 1 milhão de motoristas cadastrados. No entanto, nenhum exemplo é tão simbólico da cortina de fumaça — ou criação de narrativas, segundo Lula — como os 294 presos que permanecem em celas da Papuda (homens) ou da Colmeia (feminino), em Brasília, depois dos atos de 8 de janeiro. Até hoje, as autoridades que investigam o lamentável vandalismo contra prédios públicos não conseguiram tipificar com exatidão nem individualizar as condutas dos presos. Na semana passada, Oeste publicou a segunda reportagem de capa sobre os esquecidos do 8 de janeiro.
PERGUNTAS SEM RESPOSTA – O texto traz perguntas há dois meses sem respostas: como justificar a prisão em flagrante dos mais de 1,3 mil homens que a Polícia Federal capturou nas cercanias do quartel? Por que centenas de pessoas seguem presas injustamente? Pior: os nomes e muitos dos rostos foram estampados pela mídia como terroristas e golpistas. Famílias em cidades no interior do país foram expostas à humilhação do uso de tornozeleiras eletrônicas. São vidas estraçalhadas num processo kafkiano. Paralelamente, um grupo de parlamentares tenta instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o antes e o depois da depredação na Praça dos Três Poderes. Não houve apoio em nenhum editorial dos grandes jornais. Pelo contrário, a maioria dos articulistas argumentou que se trata de uma artimanha bolsonarista para desestabilizar o início do governo Lula. Se o petista quiser, o Lula 3 nem precisa começar. O consórcio da imprensa prefere continuar acompanhando os passos de Jair Bolsonaro. Realmente é inaceitável a postura de Lula, de seus aliados e da imprensa, que não aceitam a formação da CPI, que sempre foi considerada na democracia como um direito sagrado da oposição. Lembram?
Matéria, enviada por Mário Assis Causanilhas
Drykarretada!