“Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser devorado por último”, disse certa vez Winston Churchill. Afirmação com sentido similar à do psicólogo canadense Jordan Peterson: “Nunca peça desculpas a uma turba sedenta por sangue. Você não está lidando com pessoas com as quais pode restabelecer um relacionamento. Você está lidando com uma ideia sem alma que possui pessoas”. É sempre triste constatar a dificuldade de parte da direita brasileira em assimilar essas lições. A polêmica do momento é o bate-boca entre a jornalista Vera Magalhães e o deputado estadual Douglas Garcia, ocorrido na TV Cultura por ocasião do debate entre os candidatos ao governo de São Paulo. Questionada pelo parlamentar sobre o contrato firmado entre ela e a TV Cultura (financiada pelo governo de São Paulo) para apresentar o Roda Viva, Magalhães – que tem usado o programa como palanque exclusivo para críticos e opositores do presidente Jair Bolsonaro – chamou o segurança, que se interpôs entre os dois contendores, que a essa altura trocavam farpas verbais. Garcia qualificou Magalhães de “vergonha para o jornalismo”, ecoando crítica anterior de Bolsonaro à mesma jornalista. Magalhães, por sua vez, disse ser “uma palhaçada” a atitude do deputado. Saindo em defesa da colega, o jornalista Leão Serva arrancou o telefone celular da mão de Garcia e, aos gritos de “vá para a puta que te pariu, filho da puta”, arremessou-o no ar. Ao fim do quiproquó, Vera Magalhães correu às redes sociais para se dizer agredida. Olhando os vídeos da cena, todavia, nota-se que o deputado não a agrediu em momento algum. Se alguma agressão houve, deu-se apenas no momento em que o jornalista Leão Serva tenta destruir o aparelho celular de Garcia. Mas, para um jornalismo cada vez mais dedicado a “pensar contra os fatos para promover um novo senso comum”, a realidade não importava. Às vésperas da eleição, o ocorrido era um excelente pretexto para avançar a narrativa segundo a qual Bolsonaro, bem como seus aliados e apoiadores, são uns hidrófobos perigosos, agressores de mulheres e jornalistas. Toda vez que age, a esquerda imagina reagir. E, mesmo quando exerce o poder das maneiras mais totalitárias e brutais, vê-se invariavelmente como vítima de um poder anterior que justifica suas ações. Assim é que a imprensa militante antibolsonarista fez o que dela se esperava, estampando nas manchetes a sentença condenatória: deputado bolsonarista agride jornalista Vera Magalhães. De modo coordenado, a esquerda político-partidária também cumpriu o seu papel na história, passando a falar em cassação do mandato do deputado por quebra de decoro. Até aí, tudo dentro do previsto. O que não estava dentro do script é o fato de o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, aderir à narrativa farsesca da “agressão” – a mesma narrativa com que Vera Magalhães e consortes tentam criminalizar Bolsonaro e os seus eleitores – e entrar de cabeça na campanha de assassinato de reputação do deputado em questão (que, de fato, não tem grande relevância, e está servindo apenas de pretexto para que a esquerda avance em sua agenda vitimista e estigmatizadora). Desde 2018, essa mesma imprensa e essa mesma esquerda não fazem outra coisa além de estigmatizar bolsonaristas e conservadores de modo geral como agressores, criminosos, fascistas, nazistas, golpistas, negacionistas, genocidas e integrantes da Ku Klux Klan. Não custa lembrar que, por exemplo, assim foram tratados pela imprensa todos os patriotas que saíram às ruas para celebrar o bicentenário da Independência do Brasil. Caricaturando até o ponto da monstruosidade aqueles que vê como opositores, a esquerda pode sempre justificar a sua própria violência política, descrita invariavelmente como um ato de heroísmo. Trata-se, portanto, de um vitimismo sempre estratégico, mesmo ali onde a histeria – entendida aqui como a prática de sentir o que se diz e não, como na expressão sadia dos sentimentos, dizer o que se sente – parece ser autêntica. O Partido dos Trabalhadores sempre recorreu a esse expediente. Enquanto faziam-se de vítima das mais terríveis (e imaginárias) agressões, os petistas não hesitavam em pregar abertamente a extirpação dos adversários. Inspirando-se no seu guru Che Guevara, José Dirceu não estava brincando quando, em 25 de maio de 2000, cinco dias após militantes petistas fantasiados de professores agredirem o então terminalmente adoentado governador tucano Mário Covas, comemorou a agressão dizendo que os adversários do PT tinham de apanhar “nas urnas e nas ruas”. Como tampouco brincava o ex-condenado Luiz Inácio Lula da Silva ao elogiar o vereador petista por tentar assassinar um adversário empurrando-o contra um ônibus em movimento. Tudo isso é apenas o corolário necessário de uma mesma mentalidade, que celebra como heróis da causa os agressores e os criminosos politicamente alinhados.
Drykarretada!