Quando uma conversa entre a esposa de Lulinha, Renata Abreu Moreira, e o empresário Kalil Bittar foi revelada, captada em gravações efetuadas pela Polícia Federal, foi um verdadeiro ‘Deus nos acuda’. Na tal conversa, Renata além de demonstrar uma grande intimidade com ‘Kaká’, tripudia sobre o marido, tratando-o como ‘ogro’ e convidando o rapaz que estava no sítio em Atibaia para ir até São Bernardo, ‘ouvir músicas do 14 bis’. Um papo meio lombrado. Depois de conseguir derrubar as acusações de que, com a ascensão do pai como presidente, fechou contratos milionários e vendeu influência junto ao chefe do Executivo, o biólogo Fabio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, trava uma última batalha judicial contra o espólio da Lava-Jato. Ele quer ser indenizado, junto com a esposa, Renata Moreira, em 200 mil reais por conta da divulgação de grampos telefônicos autorizados pelo então juiz Sergio Moro. O caso, aberto em 2016, corre em segredo de justiça e deve ser apreciado nas próximas semanas pela Justiça Federal de São Paulo. GRAVAÇÕES DA LAVA JATO – O diálogo que motivou o pedido de ressarcimento veio a público junto com mais de 50 outras conversas telefônicas monitoradas pela Lava-Jato, no auge da investigação que atribuía ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelas suspeitas de ter recebido um sítio em Atibaia de presente de empreiteiras que fraudaram contratos com a Petrobras. No grampo, captado às 15h48 do dia 27 de fevereiro de 2016, Renata conversa com o empresário Kalil Bittar, sócio de Lulinha e irmão do proprietário formal do sítio, Fernando Bittar. Ao longo de pouco mais de dez minutos, os dois denotam intimidade na conversa privada, o que, alega a defesa de Lulinha, gerou insinuações que supostamente mancharam a imagem de Renata e do filho do ex-presidente. “SOU UM CANALHA” – Em um dos trechos, Kalil chama a esposa de Lulinha de “minha diretora comercial predileta”. Informado de que o filho do ex-presidente, com quem iria falar, está dormindo, emenda: “Então vamos conversar a gente. Bem, bem canalha, sem problema, porque eu sou um canalha”. Renata, na sequência, pede que Kalil coloque uma música para ela e diz: “Adoro você. Já disse isso um dia na vida? Vou dizer agora. Adoro”. Em outros trechos, Kalil reclama da comida armazenada na geladeira do sítio de Atibaia e diz que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, esposa de Lula que morreu em 2017, é uma “acumuladora” e mantém alimentos vencidos na propriedade. “Fala pra ela que eu fui comer um hamburguerzinho mas o hamburguerzinho que eu ia comer venceu antes da eleição da Dilma”, ironiza na conversa telefônica. “Então fala pra essa p… da dona Marisa que eu fui fazer um hamburguer, o hamburguer tá antes da eleição da Dilma, c…”, continua. “MUITO TARADO” – Logo em seguida, Kallil informa que abriu um vinho supostamente valioso da adega que o ex-presidente mantinha no sítio. “Acho que eu fiz uma merda…, que eu abri um vinho e na hora que eu abri ele tinha um número de série. Então eu acho que isso é p…, entendeu?”, diz ele a Renata. No diálogo, sem qualquer relação com a investigação que na época recaía sobre o ex-presidente Lula, Kalil afirma que está “muito tarado” e pede que a ligação telefônica seja mantida sob reserva. “É bom você falar que eu nem conversei contigo. Importante isso, tá bom? Guardemos o segredo e depois a gente troca nossas músicas, tá bom?”, diz ele. Para a defesa de Lulinha e Renata, o fato de o então juiz Sergio Moro ter retirado o sigilo de conversas estritamente pessoais, como esta, é ilegal e, por isso, o casal deve ser indenizado pela União. BOATOS E CHACOTAS – Renata “teve sua intimidade devassada pela publicização sem critério dos áudios produtos da interceptação telefônica. Pior. Não apenas foi indevidamente exposta a público como também passou a ser alvo de boatos e chacotas. Teve a sua intimidade e sua vida privada exposta e distorcida em rede nacional”, diz a defesa do casal no processo. “O juiz Sergio Moro extrapolou sua função judicante e agiu como agente político em busca da convulsão social contra a família Lula da Silva, instigando o ódio da população brasileira aos autores”, alegam os advogados no pedido de indenização. “Além de interceptar todas as conversas dos autores, o que, por si só, é repudiável, o juiz Sergio Moro tratou de divulgá-las ao público em geral, sem nenhum filtro ou com a cautela exigidos pela matéria (…) divulgando até mesmo diálogos de caráter pessoal que, legalmente, deveriam ter sido destruídos (e não utilizados para destruir a reputação dos autores). (…) O que se verificou foi a autorização de uma verdadeira devassa na vida pessoal dos autores, sem qualquer fundamento adequado, tudo para que supostamente fosse o pai do coautor investigado”, afirmam. NOTICIÁRIO POLICIAL – Lulinha ganhou o noticiário policial após sua empresa de games ter recebido cerca de 83 milhões de reais ao longo de 12 anos da concessionária de telefonia Oi. “Veja” revelou o início das transações suspeitas e a oferta de um conhecido lobista de Brasília para que o filho do ex-presidente despachasse de seu escritório, em uma mansão em um bairro nobre da capital. Os supostos serviços pelos quais o primogênito de Lula foi contratado incluíam a produção de um site religioso, de material didático e de projetos para reduzir a evasão escolar. Antes de Lula ascender ao Palácio do Planalto, Fabio Luiz era um simples tratador em um zoológico paulista. Catador de bosta de elefante.
Ponto de Vista: Vejam o que é a volúpia por dinheiro. Lulinha é um empresário vitorioso, que o orgulhoso pai disse ser o “Ronaldo Fenômeno” do mundo dos negócios. No caso, a Lava Jato flagrou Renata Moreira num diálogo pouco recomendável com um sócio do marido, que declarou a ela estar “muito tarado”, e o fez reservadamente, pedindo para Lulinha não saber. Diante da revelação do telefonema picante, ao invés de ficar quieto e esquecer o assunto, em nome do amor que dedica a uma mulher capaz de travar esse tipo de conversação, o fenomenal Lulinha decidiu manter o diálogo para sempre em aberto, em troca de uma indenização de R$ 200 mil do então juiz Sérgio Moro, embora nem possa provar se foi ele quem vazou o surpreendente papo entre amigos. Conclusão: desse jeito, Lulinha mais parece o personagem central de Somerset Maugham na obra imortal “Servidão Humana”, em que o escritor mostra até que ponto o amor pode conduzir os seres humanos. (C.N.)
Drykarretada!