“O que será o Brasil? O Brasil é o que tem talher de prata. Ou aquele que só come com a mão? Ou será que o Brasil é o que não come? O Brasil gordo na contradição?”. Esses versos da música “A Cara do Brasil”, de Celso Viáfora e Vicente Moreira Barreto, serão interpretados pela cantora curitibana Adriana Moreira na live solidária “Basta! Pobreza não é normal”, que será transmitida pelo canal no YouTube do Instituto Dara (antigo Saúde Criança Renascer), a partir das 19h, na próxima 2ª, dia 14, em alusão ao Dia Nacional de Combate à Pobreza.
Falar de pobreza no Brasil é falar de contradições e de desigualdades. Uma das maiores economias do mundo é também um dos locais mais desiguais. É onde poucos sentam-se à mesa com talher de prata e muitos não têm o que comer. É analisar quais são os fatores socioeconômicos que definem o nosso bem-estar. Os chamados determinantes sociais de saúde, como classificados pela Organização Mundial de Saúde, relacionam as condições em que uma pessoa vive e trabalha, os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco à população, tais como moradia, alimentação, escolaridade, renda e emprego.
Dados recentes do Índice de Privação Brasileiro (IPB), da Fiocruz, apontam que a desigualdade responde por 30% da mortalidade de crianças de até cinco anos. Nossa experiência de três décadas no trabalho com famílias em vulnerabilidade social nos mostra que a pobreza é a pior doença social. Ao mesmo tempo, é essa experiência que nos empodera a dizer que pobreza tem solução. E que você, que nos lê agora, pode fazer parte dessa transformação.
O Dia Nacional de Combate à Pobreza traz um chamado para uma luta que é diária: combater a pobreza estrutural em todas as suas dimensões. Para isso, é necessário uma ação coletiva. Precisamos de uma sociedade mobilizada e que compreenda que pobreza não é normal. Precisamos também de políticas públicas traçadas com base em dados, como esse que o IPB nos fornece, e de soluções inovadoras. Nesse cenário, as ONGs têm um papel bastante relevante. Funcionam como laboratórios de inovações que podem ser criadas envolvendo os beneficiários, prototipadas e testadas. Essa inteligência social pode e deve ser absorvida pelos governos em suas estratégias de combate à pobreza e ganhar escala.
A tecnologia social Plano de Ação Familiar (PAF), criada pelo Instituto Dara, por exemplo, influenciou a criação da política pública Família Cidadã, em Belo Horizonte (MG). A abordagem intersetorial e multidisciplinar nas áreas de saúde, de renda, de moradia, de cidadania e de educação desenvolvida pelo Dara provou-se potente no empoderamento e na autonomia de famílias em vulnerabilidade social. Dados de uma pesquisa realizada pela Universidade Georgetown, em 2013, revelam que famílias que tiveram a oportunidade de traçar um Plano de Ação Familiar orientado pelo Dara por dois anos tornam-se mais resilientes no longo prazo. A pesquisa aponta que, de três a cinco anos após a alta do programa, a renda familiar praticamente dobra e caem em 86% as reinternações hospitalares, quando comparadas com um grupo de famílias que não se beneficiou do PAF.
A implementação do PAF custa cerca de R$ 800 por mês para uma família com até cinco membros. É um investimento que gera um lucro social incalculável não apenas para as beneficiárias diretas, mas para a sociedade como um todo. Investir numa sociedade sem pobreza é investir em prosperidade para todo mundo. Você pode fazer parte dessa solução de diversas maneiras, seja mobilizando outras pessoas para a causa, doando seu tempo com trabalho voluntário, pressionando governos para a criação de estratégias de combate à pobreza e contribuindo com ONGs, como o Dara, que trabalham para que esse dia 14/12 seja no futuro um dia como outro qualquer.
Vamos todas e todos juntos dar um basta na pobreza.
*Mirella Domenich é diretora-executiva do Instituto Dara e atua há 20 anos no combate à pobreza.
Ponto de Vista: Infelizmente, tudo tem que passar pela política, pelos políticos e suas politicagens. Se todos tivessem empregos, não haveria a tal linha da pobreza; a desigualdade fala muito alto e, infelizmente, vai continuar.
Drykarretada!